quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

111 ais

Livro de micro contos, 111 ais, escrito por Dalton Trevisan, é surpreendentemente profundo e fácil de ler, nos abate com poucas palavras que acertam o alvo. Não seria exagero comparar alguns micro contos com Koan ocidentalizado

O marido com dores e a mulher liga o rádio a todo o volume
- Quero ver quem grita mais alto

Cada página apresenta um pequeno lamento que é compartilhado por todos nós vez ou outra. Talvez aí se encontra a grande surpresa uma vez que nem sempre conseguimos dizer o que nos oprime; recebemos sem aviso um fragmento de sensações guardadas. Mais uma vez: Palavras precisas, lembrando Borges na destreza e Bukowski na crueza. 
 Engraçado também 

- Ó santa putinha. Ainda quer mais?
-Sim, amor, sim.
- Você é uma cadelinha fogosa ?
- Ai, sou. Sim
- Uma cabritinha arretada que rebola pro teu macho ?
- Sou eu. Mais. Ai, sim.
- Uma falsa filha de Maria, vestidinho preto, calcinha vermelha e Bíblia na mão?
- Ah, não. Essa de Bíblia, não.

Mais livros do Dalton aparecerão por aqui.

Dalton Trevisan

Nascido em Curitiba, dizem que é reservado; quando jovem lembrava na aparência o Julio Reny mas sem os litros de álcool, e parece ser uma pessoa interessante uma vez que nasceu no Paraná e não é neo nazista. Vencedor de alguns Jabutis e do prêmio Camões, a Libertadores da América dos livros escritos em português. Escreveu "O Vampiro de Curitiba". Ainda vive (mas não por muito tempo - nasceu em 1925).